Toda a palavra é pouca
para descrever
o calor que se sente às sete da
tarde, do
alto do bairro da
Conchada, em
Coimbra, no
segundo dia do mês de
agosto.
É pouca para conseguir
explicar a escolha de uma imagem para
representar, numa
conversa, um
conceito existencial
pesado, como
“vida”.
Qual a
melhor?
Uma
árvore, uma
planta, um
sol, uma
onda, um
céu, ou
uma
janela?
É pouca para capturar
o caminho nocturno até
ao jardim do
Torel, ou
a sensibilidade de um poema curto
de Alberto de
Lacerda, ou
a buganvília que está do outro lado da janela durante o
almoço, ou
ainda, a
sensação de estar sentado junto ao
tanque, em
casa da
Mãe, junto
à freguesia de
Gandra, com
os pés e os gémeos dentro de
água, no
terceiro dia do mês de
agosto, durante
o calor das duas e pouco da
tarde.
Qualquer palavra é
pouca; mas
há palavras
que, mesmo
assim, conseguem ser
muito, fazer-nos
sorrir
muito.
Como, por
exemplo, o
nome masculino
“Wonder”, ou
a alcunha feminina
“leve-leve”, ou
a expressão inglesa “skinny
dipping”, ou
o nome de cada um dos tipos de tomate que
está à venda no supermercado de
S. Martinho (a
saber, por
ordem de
exposição:
tomate,
cacho,
xuxu,
coração, e
cherry).