Passou-se muita coisa
nestes últimos dias.
Aprendi
que as flores brancas no caminho do tanque
grande se chamam hortênsias
“paniculadas”. Descobri
o quão suave é um
cacho de uvas da casta
vinhão, e que o castanheiro junto
ao lago grande já está
também ele grande e forte o
suficiente para que me possa
sentar num ramo, a ler um livro, com
com as pernas soltas
no ar.
Desejei uma pequena cicatriz
ao acordar, depois de a ter
desejado enquanto tomava o
pequeno-almoço.
Larguei a leitura do livro “Exploring Federalism”
(Alabama University
Press, USA, 1987) de Elazar, Daniel
J.,
na página 94
para ir jogar à bola na relva
em frente às escadas da
porta principal.
Estava a chover, e perdi o
jogo, por cinco bolas a
zero.
Li que o fogo chegou às portas de Silves, e entrou
no distrito de Sines.
Vi fotografias na internet
de aldeias com o céu
escuro e amarelo.
Comecei a ver o filme
Solaris, de
Tarkovsky, Andrei, mas
não acabei.
Uma amiga minha teve o dia mais feliz da
vida dela. O meu irmão Jacinto
compôs uma canção sobre ruas. A Bloomberg
fez um podcast sobre os grandes problemas da
Bitcoin e outras criptomoedas.
Li três manuais de teoria de federalismo e
escrevi dez páginas
da tese.
Ofereceram-me uma
cruz, feita com o pouco café de pequeno-
-almoço que restava
no fundo de uma chávena.
Corri
oito ponto vinte quilómetros, ouvi
Bach e Jackson
Browne, fiz
algumas flexões aqui
e ali.
Entrei na cozinha e comi um
pêssego maduro, e
pensei, depois de dar uma dentada, que
nothing beats
a good peach.
Depois
saí da cozinha. O céu
estava cinzento, e eu
estava de pé.
Lembrei-me de passear
em Osaka, com o céu
cinzento, e pensei:
“quando morrer, gostava de estar
sentado por baixo da
buganvília, junto ao tanque
pequeno, num
dia de verão, com
sol.”